Editorial

Julho 1, 2023

Integrar, assumindo tarefas, a estrutura do Centro Espírita, é ter a possibilidade de dar voz a um grito de alma, da alma que não encontra satisfação apenas naquilo que o mundo material tem para oferecer.

A alma reclama, às vezes desde a infância, e ninguém sabe porquê ou de que ela se queixa. Só se sabe que deixa os olhos tristes, a expressão sonhadora levemente angustiada, revelando-se por vezes em gestos bruscos e palavras impacientes. É que a promessa feita anteriormente tarde em cumprir-se.

E a alma, que fora do corpo físico tem pressa em ser bem-aventurada, agita-se no seu envoltório abençoado, mas obscuro, tentando encontrar o seu “lugar feliz”.

E ele chega, na forma de um Centro Espírita onde somos levados, ou que encontramos, e no qual ingressamos como aves feridas em busca de arrimo.

Depois é o tempo de conhecer a Doutrina Espírita, encontrar as respostas que ninguém tinha conseguido dar e sentir que tudo afinal faz sentido.

Saram de súbito todas as feridas? Resolvem-se todos os conflitos? Desaparecem todos os medos? Não todos, mas passamos a conviver melhor com cada um deles, compreendendo que são companheiros de uma vida.

Um certo tipo de alegria, daquele que se sente sem alarde, mas nos faz sentir humanos, passa a fazer parte dos nossos dias.

Calam-se as reclamações porque perdem todo o sentido ao sabermo-nos imortais e herdeiros de um passado construído por nós mesmos, que nos compete superar.

Interessados, constantes na busca do conhecimento que liberta a consciência, somos reconhecidos por quem lidera os destinos da Casa Espírita e chega o convite para integrar uma ou outra tarefa. Nesse dia ficamos a saber que encontrámos o nosso verdadeiro lugar no mundo.

Seguir de uma forma voluntária, com o consentimento do coração e da razão, sentir o passar do tempo, viver os diferentes aspetos das várias tarefas, somar responsabilidades, ultrapassar desafios imprevistos, mas habituais da vida terrena, é a forma de cumprir essa promessa de servir ao lado de Espíritos luminosos que, como orientadores ou instrutores dentro da instituição Espírita, compreenderam a mensagem de Jesus, antes de nós, tornando-se Seus mensageiros e levando-nos com eles pelos caminhos que já trilham com firmeza.

O Centro Espírita é um espaço de acolhimento de todos os projetos de mudança, de melhoria, de renovação de comportamentos.

Ser nele um trabalhador diligente, ainda que anónimo, é uma das iniciativas mais importantes a que nos podemos propor num tempo em que, do Cristianismo primitivo, ressurgem as figuras dos Apóstolos e dos Mártires na figura de homens comuns, na sua aparência, mas cujos exemplos deixam, em nós, a marca indelével dos Caminheiros de Jesus!

Carmo Almeida

(Boletim “A Libertação” | ANO XXXVIII | N.º 159 | 1 de julho de 2023 | Editorial)

 

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